Escrevendo o Futuro...

O material pedadógico de incentivo a leitura e escrita do CENPEC foi para mim um divisor de águas na minha vida profissional, hoje a Metodologia do  Prêmio Escrevendo o Futuro é o da Olimpíada da Lingua Portuguesa, o MEC em parceria com o CENPEC,lançam há cada dois anos um concurso a nível nacional, que está longe de ser um simples concurso, pois através da Sequência Didática apoia o trabalho dos professores, e acima de tudo acreditam que  escrever não é um dom. Assim milhares de crianças têm a oportunidade de aprender a ler e a escrever: poemas, memórias, crônicas e textos de opinião.  
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Em 2004 fui finalista Regional do Prêmio no Gênero Memórias

Ontem alegria, hoje solidão

 Naqueles tempos a vida passava devagar, era um sossego, tudo era tranquilo, tínhamos a alegria, aliás, alegra era comum. Leventávamos cedo para encher água na cabeceira, depois, íamos lavar as roupas e tomar banho no rio.
 O carro não vinha até aqui, ficava na parada Zé Castor. Para ir até Bragança ou tinha que andar muito ou ir a pano(canoa) atravessando as maresias.
Notícias eram distantes de nós, a não ser as do povoado: uma mulher que paria, uma moça que fugia. Os anos passavam devagar e nós aproveitávamos o luar, as brincadeiras de roda, lembranças do bombaqueiro, sapatinho branco, brincadeirinha do anel, tudo girava em torno da alegria.
A Comida era farta, muito peixe, caranguejo, ostra, siri. Podíamos escolher do tamanho desejado. A vida corria livre, sem barulhos, a não ser os músicos do Sereno, que nos faziam correr, pulando numa grande dança.
A maré enchia, a maré vazava e nós sempre tomando banho de rio, às vezes ouvíamos um ralho, um cipó que teimava em nos marcar.
Como era simples viver sem correrias, ouvindo os pássaros, os gritos da matinta-pereira. os grandes morcegos rasga-mortalha nos faziam-nos tremer de medo nas noites escuras.
Em Nova Olinda era assim. Hoje, com a chegada do ônibus, as coisas não são as mesmas, a energia elétrica transformou as pessoas, nem se brinca mais, todos assistem à televisão, é uma correria de motos, e os meninos estão cada vez mais malcriados. A alegria deu lugar à solidão. Somos ainda uma comunidade pequena; no entanto, existem tantas mudanças que parece que o tempo é outro. Não se conversa mais, todos estão ocupados demais em suas casas. Da minha porta, sentada, fico pensando: po que tantas mudanças? Isso era para ser exclusividade dos camaleões. Sem netos para alegrar os meus dias, sinto-me cada vez mais só, solitária com as minhas lembranças.

Roseane Pinheiro do Rosário. texto produzido em 2004, quando era aluna da 5ª série na EMEF André Alves- Nova Olinda - Augusto Corrêa - PA (republicação no Almanaque Na Ponta do Lápis nº11- Agosto de 2009)
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