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O dia de ontem no Fórum foi marcado com muita emoção, assistir a Sessão Pública de julgamento do processo de anistia política de Paulo Freire. A Caravana da Anistia formados pelos conselheiros votaram por unanimidade e o Brasil pediu perdão a Paulo Freire que foi punido durante a ditadura militar por "identificar na alfabetização um processo de libertação dos oprimidos".
Em 1961, Paulo Freire realizou com sua equipe as primeiras experiências e alfabetização popular em Pernambuco, que levariam à constituição do Método Paulo Freire. Foi feita a alfabetização de 300 cortadores de cana em apenas 45 dias. Em 1964, o governo João Goulart aprovou a multiplicação das primeiras experiências de Paulo Freire num Plano Nacional de Alfabetização, que previa a formação de educadores em massa e a rápida implantação de 20 mil núcleos, os Círculos de Cultura, em todo país. Com o golpe militar, o Plano foi extinto em 14 de abril e Paulo Freire ficou preso por 70 dias, acusado de traição.

Foi para o exílio, primeiro para a Bolívia, depois para o Chile, onde escreveu Educação como Prática para a Liberdade e sua obra-prima, Pedagogia do Oprimido, livro publicado no Brasil apenas em 1974, vários anos após sua publicação em outras línguas. Daí foi para o mundo, Estados Unidos e finalmente Genebra, Suíça. Ficou no exílio por 16 anos, retornando ao Brasil em 1980. Filiou-se no Partido dos Trabalhadores, tornou-se Secretário Municipal de Educação em 1989 no governo de Luíza Erundina, quando criou o Movimento de Alfabetização (MOVA), um modelo de programa público de apoio a sala comunitárias de Educação de Jovens e Adultos (EJA), hoje adotado por muitas prefeituras e instâncias de governo.

Na oportunidade do julgamento público de anistia política de Paulo Freire, a Rede Talher de Educação Cidadã e o Programa Escolas-Irmãs solicitaram a várias personalidades declarações sobre o significado de sua anistia.

Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República: “Anistiar Paulo Freire é libertar o Brasil da cegueira moral e intelectual que levou governantes a considerarem inimigos da Pátria educadores que queriam libertar o País da cegueira do analfabetismo.”

Frei Betto, escritor e teólogo: “Anistiar Paulo Freire é anistiar a educação brasileira do sucateamento e torná-la prioridade nacional.”

Pedro Pontual, Presidente honorário do Conselho de Adultos para a América Latina (CEAAL): “Significa o reconhecimento da Nação brasileira à concepção da educação popular libertadora que nele se inspirou, como paradigma educacional que se tornou referência e esperança em muitas partes do mundo, para aqueles que seguem acreditando que um outro mundo é possível.”

Moacir Gadotti, Diretor do Instituto Paulo Freire: “Anistiar Paulo Freire significa reconhecer a verdade. Todos precisam conhecê-la. Anistiar Paulo Freire significa também preservar a memória, papel da educação, e homenagear a causa que ele sempre defendeu: a democracia.”

“Paulo Freire, educador popular e cidadão do mundo, finalmente vai voltar a ser cidadão brasileiro em sentido pleno: com direito a reconhecimento formal de sua brasilidade e de sua contribuição à educação como prática da liberdade, à pedagogia do oprimido, da indignação e da autonomia.”

Paulo Freire é mais conhecido e reconhecido no resto do mundo que no Brasil. Inúmeros Centros de Estudo e de Pedagogia foram criados em diferentes países. Mas ele jamais se esqueceu do Brasil. Escreveu na Pedagogia da Esperança: “É difícil viver o exílio. Esperar a carta que se extraviou, e notícias do fato que não se deu. Esperar às vezes gente certa que chega, às vezes ir ao aeroporto simplesmente esperar, como se o verbo fosse intransitivo.” E repetia: “Antes de ser cidadão do mundo, sou um cidadão do Brasil”.

Paulo Freire, com a Caravana da Anistia, volta definitiva e totalmente ao Brasil, de onde nunca deveria ter saído, ou levado a sair, ou ser expulso. O povo e o governo brasileiro o reconhecem cidadão brasileiro em sentido pleno e o oferecem ao mundo também como seu cidadão.

Lembramos PAulo Freire na frase eternizada e repetida por educadores que veem o chão da escola o ponto de esperança: “Ai daqueles que pararem com sua capacidade de sonhar e com sua coragem de anunciar e denunciar. Ai daqueles que, em lugar de visitar de vez em quando o amanhã pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e o agora, se atrelarem a um passado de exploração e de rotina.”

E no término da leitura do discurso da viúva de Paulo Freire marcado pela emoção alguém falou bem alto:

"Paulo Freire vive! Paulo Freire é brasileiro!"